Por Wilson César Malinoski
Jornalista Registro 5007/SC
Um retrato histórico que desmonta versões distorcidas do debate político
Nos últimos cem anos, o Brasil viveu uma experiência política diferente daquela que costuma ser repetida na arena pública. Quando se abandona a retórica emocional e se observa a cronologia real do poder, torna-se evidente que o país foi governado majoritariamente por uma hegemonia de direita e centro-direita. Ao todo, aproximadamente 88 anos sob controle desse espectro ideológico, enquanto a esquerda governou por cerca de 14 anos.
A análise histórica inicia na República Velha com Artur Bernardes e Washington Luís, sustentados pelos partidos oligárquicos PRM e PRP, alinhados a interesses conservadores e economicamente tradicionais. Em seguida, a Era Vargas, apesar de multifacetada, instituiu um regime centralizador e autoritário que não se enquadra na definição de governo de esquerda do ponto de vista institucional.
No período democrático pós-Segunda Guerra, entre 1946 e 1964, presidentes como Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, apoiados por legendas como PSD, UDN e PSP, mantiveram uma orientação de centro-direita. O golpe militar de 1964 encerrou esse ciclo democrático e instituiu mais de duas décadas de controle absoluto pelas siglas ARENA e PDS, representando um regime claramente conservador.
Com a redemocratização em 1985, esperava-se uma reconfiguração estrutural. Porém, a sucessão já na Nova República manteve a predominância da direita e do centro-direita. José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Michel Temer e Jair Bolsonaro preservaram a mesma orientação ideológica, confirmando a continuidade histórica.
A única ruptura temporária dessa hegemonia ocorreu com os mandatos de Lula e Dilma, eleitos pelo Partido dos Trabalhadores, que somaram aproximadamente 14 anos de governo federal. Lula retorna ao cargo em 2023, mas ainda é cedo para definir o impacto histórico desse novo período.
Diante dessas informações, perde sustentação o argumento frequentemente repetido de que o Brasil teria sido dominado pela esquerda. Os dados oficiais demonstram o contrário. A direita conduziu o país pela maior parte do último século e, mesmo nos períodos de alternância eleitoral, a estrutura institucional, econômica e política permaneceu amplamente conservadora.
Reconhecer esse percurso histórico é fundamental para qualificar o debate público e evitar conclusões superficiais que distorcem a realidade e alimentam conflitos baseados em percepções equivocadas.