Por Wilson César Malinoski – Jornalista
Há um abismo curioso entre o homem e a sua caricatura. A caricatura exagera traços, acentua imperfeições, amplia gestos — mas, paradoxalmente, é nela que às vezes nos reconhecemos mais do que no espelho.
Quando vi meu rosto transformado em traço em cor acinzentada, percebi algo profundo: o desenho não mostrava apenas o que sou por fora, mas o que talvez o olhar humano já pressente por dentro — um temperamento, uma ironia, uma história.
O homem carrega suas dúvidas, seu cansaço, seus erros e esperanças; a caricatura, por outro lado, carrega a síntese disso tudo. É o espelho deformado que revela a verdade que o espelho comum esconde.
No traço do caricaturista há filosofia: ele não desenha rostos, desenha essências. E quando a caricatura se parece tanto conosco, talvez seja o sinal de que já nos tornamos, de alguma forma, personagens de nós mesmos.
