Por Wilson César Malinoski
Voltemos a 2014. Eu ainda era estudante da Universidade do Alto Rio do Peixe, em Caçador, e estava às voltas com a construção do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Numa das apresentações preliminares, levantei uma pergunta que, à época, pareceu quase uma heresia jornalística: por que a violência vende?
Lembro bem do semblante sério dos avaliadores, dos olhares cruzados e do silêncio que antecede a reprovação moral. A instituição, por meio de seus representantes, foi categórica — “isso não é verdade”. Sugeriram que eu abandonasse a ideia, que buscasse um tema mais “edificante”, mais “positivo”. Mas jornalista que se preze sabe: quando dizem para não ir por ali, é justamente ali que está a verdade.
Mantive a proposta. Criei um blog de opinião, investiguei o comportamento do público, mergulhei na antropologia da comunicação e nos instintos primários do ser humano. Descobri que o fascínio pelo conflito é antigo como a própria espécie. O medo, a curiosidade e a necessidade de se proteger — são gatilhos que fazem com que o olhar humano se volte, naturalmente, para o drama, o risco, o perigo.
Provei, com dados e reflexão, que a violência vende porque desperta a atenção, e atenção é a moeda mais disputada da era digital. O público não busca sangue — busca sentido. Mas a fronteira entre a informação e o espetáculo é cada vez mais tênue.
Meu TCC recebeu nota 10 do gabinete de avaliação. Uma vitória não apenas acadêmica, mas moral. Anos depois, observo com ironia os mesmos veículos que outrora negavam o fenômeno, fazendo uso indiscriminado dele — manchetes inflamadas, tragédias ampliadas, imagens sem contexto.