Por Wilson César Malinoski
Nos últimos anos, tornou-se quase automático ler em portais de notícia a expressão “vítima fatal” — especialmente em matérias policiais e de trânsito. É um termo repetido à exaustão, mas que revela um descuido preocupante com a precisão da linguagem jornalística.
Do ponto de vista semântico, “fatal” significa “aquilo que causa a morte”. Logo, um acidente, um disparo, uma facada ou uma queda podem ser fatais, porque são os agentes causadores do óbito. Já a vítima, por definição, é quem sofre o efeito do ato, e não quem o provoca. Portanto, chamar alguém de “vítima fatal” é um contrassenso — a vítima não pode ser “fatal”, pois ela não causa a morte, ela a sofre.
O correto seria dizer:
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“O acidente teve uma vítima”; “O acidente foi fatal para o motorista”;
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“A colisão resultou em uma morte”; “A vítima morreu no local”.
Mas o que explica essa insistência?
Trata-se de um vício de linguagem consolidado pela repetição nos noticiários. O termo soa mais “forte”, mais “impactante”, e por isso é replicado sem reflexão. No entanto, o jornalismo responsável deve prezar por clareza, precisão e respeito ao significado das palavras — pois são elas que constroem a credibilidade da informação.
Aos colegas jornalistas,
o conselho é simples, mas essencial:
Revisem as expressões antes de publicar. A força de uma notícia não está no exagero das palavras, mas na fidelidade ao fato. Evitem clichês que empobrecem a linguagem e confundem o leitor. A morte já é suficientemente séria — não precisa ser adjetivada com erros.
Como costumo dizer nas redações:
“Fatal é o erro de quem escreve sem pensar.”