Por Frutuoso Oliveira
Podem
começar a me atirar as pedras.
Mas
só aqueles que estiverem sem pecado. Como Jesus ensinou lá no evangelho de
João, quando os fariseus levaram até ele a mulher que tinha dado uma puladinha
de cerca.
Esqueçam
a pandemia um pouco. O textão aqui é sobre política. Na sua essência.
Jair
Bolsonaro conhece como poucos o Congresso Nacional. Foi eleito para sete
mandatos consecutivos como deputado federal.
Como
conhecedor dos corredores do edifício de duas torres e seus anexos no centro da
praça dos Três Poderes, ele sabe que não dá para brincar com aquela turma.
Ele
foi um dos 441 deputados que votaram favorável ao impeachment de Fernando
Collor, naquele 29 de setembro de 1992.
Em
17 de abril, de 2016, quase 24 anos depois, lá estava Jair Bolsonaro entre os
367 deputados que disseram sim pelo afastamento da presidente Dilma Roussef.
Esses
episódios que vivenciou fazem com que o presidente “cubra o Congresso Nacional
de gritos”, para alegrar a torcida, e ao mesmo tempo costure acordos com seus
principais atores.
Enquanto
lá fora, para os bolsomínios que se acotovelam na frente do Alvorada ou do QG
do Exército, o discurso é “não vamos negociar nada”.
Lá
dentro do palácio a lista de cargos para os partidos do centrão já está
concluída. A regra é que não pode ser petista. O resto tá valendo.
Bolsonanro
sabe que precisa dessa turma para governar.
Ele
até tentou levar na base do grito.
Mas
começou ver a placa "impeachment" brilhar ao longe com luzes de neon.
Piscando como na fachada de uma zona de meretrício.
Parece
que percebeu que na política, é preciso ser político.
Lula
foi professor dessa matéria. Na rua falava que o Congresso Nacional tinha 300
picaretas.
Lá
dentro, no poder, foi justamente com esses que ele fez e manteve acordos.
No
fim, nós sabemos o que ocorreu.
Luiz
Henrique, um dos melhores governadores que Santa Catarina já teve, se elegeu
discursando contra as oligarquias.
Na
campanha ele radicalizava a ponto de não falar o nome da cidade de Irineópolis,
lá no Planalto Norte, porque era uma homenagem a Irineu Bornhausen.
Preferia
chamar de Valões, o nome antigo da localidade.
Gostava
de citar Goethe: matar o monstro é fácil, difícil é se livrar das entranhas.
Para
governar, acertou com Jorge Bornhausen, que para ele simbolizava a oligarquia
catarinense.
Um
acordo necessário para a governabilidade e que acabou mantendo seu grupo no
poder por 16 anos.
Não
imaginem que será diferente com Jair Bolsonaro.
O
centrão já mandava em meio Governo, agora vai mandar no resto.
Tirando
os crentes e olavistas, tipo Damaris e os caras da Educação e do Itamarati, o
resto é centrão.
Se
não for indicado, tem o apoio.
O
Fred Perillo, consultor político lá de Brasília, já escreveu sobre isso hoje no
facebook e vou repetir aqui.
“A
Valdemar da Costa Neto do PL, Bolsonaro prometeu o comando do Banco do nordeste
e a Secretaria de Vigilância Sanitária, um dos dois postos chaves do Ministério
da Saúde.
O PP
terá o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas e o Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação.
Ao
PSD, o governo ofereceu a Fundação Nacional de Saúde.
O
presidente atravessou os últimos 15 dias em acertos com líderes do Centrão,
entre eles Roberto Jefferson (PTB), Valdemar Costa Neto (Progressistas),
Gilberto Kassab (PSD) e Marcos Pereira (Republicano/Igreja Universal).
Alguns
são personagens do mensalão e da corrupção na Petrobras.
Caros,
todos os presidentes negociam com o Congresso, de votações e pautas
legislativas a cargos”.
Hoje
Bolsonaro se reuniu com líderes do MDB e deve conversar com o DEM ainda essa
semana.
Que
mal tem nisso? Nenhum. É parte do jogo democrático. O erro é pregar que é
diferente. Isso tem nome de hipocrisia.
Então,
se você acha que Bolsonaro é diferente dos demais. Enganou-se redondamente.
Não
é e nunca foi. Só faz tipo.
É o
jogo. E ele sabe como jogar o jogo.
Você
pode colocar sua camisa da seleção, gritar na frente do Exército, espernear ou
fazer o que bem entender que nada vai mudar.
A
sorte está lançada.
Bolsonaro
está acertando com o centrão para eleger o próximo presidente da Câmara, que
substituirá Rodrigo Maia.
E
tem tudo para conseguir. É só saber usar a caneta.
Como
vai conseguir os votos?
Como
todos os demais presidentes conseguiram. Com orçamento, cargos e emendas.
Respeito
todas as opiniões. Mas, por favor, parem de achar que Bolsonaro é o mito. Que é
diferentão.
Cristãos
bolsomínios, católicos ou evangélicos. Parem de pensar que a Santíssima
Trindade foi substituída pelo Santíssimo Quarteto, formado agora por Bolsonaro,
Pai, Filho e Espírito Santo.
E
parem de pensar que vocês vão fechar o Congresso e o STF.
Bolsonaro
os quer bem abertos e, simplesmente, fazendo a sua vontade.
E se
jogar bem, pagando a conta (com o dinheiro do povo brasileiro), vai conseguir.
E se
jogar mal. Ele já sabe: vai para o chuveiro mais cedo. Até porque ele já ajudou
a mandar dois, enquanto estava no Congresso.
Recomenda-se
a Carlos Moisés o mesmo caminho. Mas isso é outro assunto.