22 abril 2020

Bolsonaro cai de vez nos braços do centrão


Por Frutuoso Oliveira
Podem começar a me atirar as pedras.

Mas só aqueles que estiverem sem pecado. Como Jesus ensinou lá no evangelho de João, quando os fariseus levaram até ele a mulher que tinha dado uma puladinha de cerca.
Esqueçam a pandemia um pouco. O textão aqui é sobre política. Na sua essência.
Jair Bolsonaro conhece como poucos o Congresso Nacional. Foi eleito para sete mandatos consecutivos como deputado federal.



Como conhecedor dos corredores do edifício de duas torres e seus anexos no centro da praça dos Três Poderes, ele sabe que não dá para brincar com aquela turma.
Ele foi um dos 441 deputados que votaram favorável ao impeachment de Fernando Collor, naquele 29 de setembro de 1992.

Em 17 de abril, de 2016, quase 24 anos depois, lá estava Jair Bolsonaro entre os 367 deputados que disseram sim pelo afastamento da presidente Dilma Roussef.
Esses episódios que vivenciou fazem com que o presidente “cubra o Congresso Nacional de gritos”, para alegrar a torcida, e ao mesmo tempo costure acordos com seus principais atores.
Enquanto lá fora, para os bolsomínios que se acotovelam na frente do Alvorada ou do QG do Exército, o discurso é “não vamos negociar nada”.
Lá dentro do palácio a lista de cargos para os partidos do centrão já está concluída. A regra é que não pode ser petista. O resto tá valendo.

Bolsonanro sabe que precisa dessa turma para governar.
Ele até tentou levar na base do grito.
Mas começou ver a placa "impeachment" brilhar ao longe com luzes de neon. Piscando como na fachada de uma zona de meretrício.
Parece que percebeu que na política, é preciso ser político.
Lula foi professor dessa matéria. Na rua falava que o Congresso Nacional tinha 300 picaretas.

Lá dentro, no poder, foi justamente com esses que ele fez e manteve acordos.
No fim, nós sabemos o que ocorreu.
Luiz Henrique, um dos melhores governadores que Santa Catarina já teve, se elegeu discursando contra as oligarquias.

Na campanha ele radicalizava a ponto de não falar o nome da cidade de Irineópolis, lá no Planalto Norte, porque era uma homenagem a Irineu Bornhausen.
Preferia chamar de Valões, o nome antigo da localidade.
Gostava de citar Goethe: matar o monstro é fácil, difícil é se livrar das entranhas.

Para governar, acertou com Jorge Bornhausen, que para ele simbolizava a oligarquia catarinense.
Um acordo necessário para a governabilidade e que acabou mantendo seu grupo no poder por 16 anos.

Não imaginem que será diferente com Jair Bolsonaro.
O centrão já mandava em meio Governo, agora vai mandar no resto.
Tirando os crentes e olavistas, tipo Damaris e os caras da Educação e do Itamarati, o resto é centrão.

Se não for indicado, tem o apoio.
O Fred Perillo, consultor político lá de Brasília, já escreveu sobre isso hoje no facebook e vou repetir aqui.
“A Valdemar da Costa Neto do PL, Bolsonaro prometeu o comando do Banco do nordeste e a Secretaria de Vigilância Sanitária, um dos dois postos chaves do Ministério da Saúde.
O PP terá o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

Ao PSD, o governo ofereceu a Fundação Nacional de Saúde.
O presidente atravessou os últimos 15 dias em acertos com líderes do Centrão, entre eles Roberto Jefferson (PTB), Valdemar Costa Neto (Progressistas), Gilberto Kassab (PSD) e Marcos Pereira (Republicano/Igreja Universal).
Alguns são personagens do mensalão e da corrupção na Petrobras.
Caros, todos os presidentes negociam com o Congresso, de votações e pautas legislativas a cargos”.

Hoje Bolsonaro se reuniu com líderes do MDB e deve conversar com o DEM ainda essa semana.
Que mal tem nisso? Nenhum. É parte do jogo democrático. O erro é pregar que é diferente. Isso tem nome de hipocrisia.
Então, se você acha que Bolsonaro é diferente dos demais. Enganou-se redondamente.
Não é e nunca foi. Só faz tipo.
É o jogo. E ele sabe como jogar o jogo.
Você pode colocar sua camisa da seleção, gritar na frente do Exército, espernear ou fazer o que bem entender que nada vai mudar.

A sorte está lançada.
Bolsonaro está acertando com o centrão para eleger o próximo presidente da Câmara, que substituirá Rodrigo Maia.
E tem tudo para conseguir. É só saber usar a caneta.
Como vai conseguir os votos?

Como todos os demais presidentes conseguiram. Com orçamento, cargos e emendas.
Respeito todas as opiniões. Mas, por favor, parem de achar que Bolsonaro é o mito. Que é diferentão.

Cristãos bolsomínios, católicos ou evangélicos. Parem de pensar que a Santíssima Trindade foi substituída pelo Santíssimo Quarteto, formado agora por Bolsonaro, Pai, Filho e Espírito Santo.

E parem de pensar que vocês vão fechar o Congresso e o STF.
Bolsonaro os quer bem abertos e, simplesmente, fazendo a sua vontade.
E se jogar bem, pagando a conta (com o dinheiro do povo brasileiro), vai conseguir.
E se jogar mal. Ele já sabe: vai para o chuveiro mais cedo. Até porque ele já ajudou a mandar dois, enquanto estava no Congresso.
Recomenda-se a Carlos Moisés o mesmo caminho. Mas isso é outro assunto.